Klaus Becker (1920-1997)
Um historiador alemão que viveu em Canoas
Vida e Obra
Um historiador alemão que viveu em Canoas
Vida e Obra
Pesquisa de Dari José Simi
Com o presente trabalho resgatamos dos empoeirados arquivos e velhos jornais, textos de Klaus Becker esquecidos, que penavam por uma luz que os desse à publicidade a fim de justificar a importância desse personagem canoense adotivo, que já vai por anos também esquecido dos meios culturais de nosso Município de Canoas e do Estado do Rio Grande do Sul.
Com a publicação de seus escritos recolhidos de antigos periódicos, trazemos ao conhecimento de todos os interessados e de quantos se dedicam à historiografia sul-riograndense para que possa ser mais conhecida a importante obra de Klaus Becker.
Infatigável em sua atuação como pesquisador do período da colonização alemã e de seus descendentes em nosso Estado e do Brasil, trouxe à luz do conhecimento histórico inúmeros trabalhos de grande interesse. Sua obra de maior fôlego é Alemães e descendentes - do Rio Grande do Sul - na Guerra do Paraguai, que apesar de intensas pesquisas, como relata, não conseguiu um estudo completo por falta de documentação, porém, o que relacionou, está baseado em confirmação histórica. Outro livro que organizou e que é hoje fonte importante de pesquisa para o conhecimento da história gaúcha, são os cinco volumes da Enciclopédia Rio-Grandense, (1956-1959). Aí estão reunidos trabalhos de destacados autores que escreveram sobre a formação histórica do Rio Grande do Sul, sua gente, sua cultura e seu progresso, constituindo-se, assim, iniciativas de transcendente relevância para a preservação e aprimoramento do expressivo patrimônio espiritual e cívico que nos legaram as gerações passadas.
Entre tantos historiadores alemães que aqui aportaram e divulgaram fatos da colonização teuto-brasileira estão Carlos von Koseritz e Carlos Jansen. Não podemos deixar Klaus Becker de fora dessa lista, pela sua obra, pelo imenso interesse que teve em resgatar a memória dos alemães para aqui emigrados e pela sua participação em entidades que visam preservar a memória de seus antepassados coloniais.
"A sobrevivência literária de um autor é sempre um desafio, na medida em que pode revelar surpresas ou não comprovar hipóteses previamente montadas. Talvez essa sobrevivência seja o traço de reconhecimento mais autêntico e genuíno sobre a qualidade ou importância de uma obra. Enquanto vivo, não é difícil para um autor ter visibilidade junto ao meio social, à imprensa, aos círculos literários. Ele pode circular junto com sua obra. Mas isso, por si só, não garante êxito nem reconhecimento a ninguém, ou seja, em todas as épocas sempre houve autores vivos e medíocres, ou, pelo menos, ilustres desconhecidos. É verdade também que, não raro, a obra de um escritor pode ser praticamente ignorada durante sua vida, sendo "descoberta", quando já transcorreram décadas ou séculos do desaparecimento de seu autor." (Ângela Treptow Sapper - A sobrevivência literária de Francisco Lobo da Costa. In Letra de Hoje. Porto Alegre, junho de 2007)
Klaus Becker nasceu em Duisburg, Alemanha, cidade da região do Ruhr na Renânia do Norte-Vestfália, a 26 de junho de 1920 e faleceu em Canoas, RS, a 03 de maio de 1997 aos 77 anos de idade. Filho do pastor Rudolf Becker e Paula Meissner. Em maio de 1921, emigrou com seus pais para o Brasil e a família estabeleceu-se inicialmente na cidade de Santa Maria, RS. Iniciou seus primeiros estudos escolares ainda em Santa Maria, continuando em Candelária e Novo Hamburgo por onde andara seu pai como pastor luterano. O secundário, no Instituto Pré-Teológico,
Sua atividade na área cultural foi intensa e de grande importância, destacando-se como colaborador no Diário de Notícias e Correio do Povo de Porto Alegre, no “Brasil Post” e “Deutsche Nachrichten”, de São Paulo. Supervisor da edição da obra “Da Roma Áurea ao mundo”, da Editora Cultural Brasileira S/A, 1952, impressa
Bibliografia:
A
maior parte da produção literária de Klaus Becker encontra-se esparsa em
jornais e outros periódicos do Rio Grande do Sul, como se pode ver na listagem abaixo:
Passa hoje o 1º centenário da imprensa em
língua alemã na América do Sul. (Der Colonist - O Colono). Diário de
Notícias, Porto Alegre, 02 ago. 1952. p.3; Aus einen alten Geschäftsbuch. Artigo publicado no semanário "Brasil-Post", São Paulo, 11 e 18.10.1952; Dr. Theodor Schnapp - 75. Todestag 9.11.1952 - Brasil-Post, São Paulo, 15.11.1952; Was nicht in den Geschichtsbüchern steht. Brasil-Post,São Paulo, 18.9.1954; 1º Centenário da Sociedade "Germânia" (hoje "Independência"). Diário de Notícias, Porto Alegre, 1.6.1955; Arno Philipp (25º aniversário de falecimento). Correio do Povo, Porto Alegre, 19 nov. 1955; Ten. Cel. Arno Philipp. Diário de
Notícias, Porto Alegre, nov. 1955. p.10;
Theo Wiederspahn. Correio do Povo,
Porto Alegre, 12 maio 1956. p.8; Instituto Mentz. Correio do Povo, Porto Alegre, 19 maio
1956; O negro sempre esquecido.
Correio do Povo, Porto Alegre, 09 jun.
1956;
Benno Mentz e sua fundação. Correio do Povo, Porto Alegre, 14 jun.
1956; Enciclopédia Rio-grandense. Organizador.
Canoas: Regional, 1956/59. 5v. Reeditada pela
Sulina; O episódio dos Muckers.
Enciclopédia Rio-grandense, v.2, 1956. p.81-114; A imprensa em língua alemã (1852-1889). Idem, v.2,
p.265-282; Sírios e outros
imigrantes árabes. Idem, v.5, p.311-321;
A imigração no sul do Estado, de
1844-1852. Idem, v.5, p.322-372;
Mais um relato sobre os Muckers.
Correio do Povo, Porto Alegre, 18 jul.
1959. p.11; Sínodo Rio-grandense: 75 anos. Correio
do Povo, Porto Alegre, 20 maio 1961. p.13; Die Brummer und ihr Einfluss in Rio Grande do Sul. Artigos publicados no jornal "Deutsche Nachrichten", São Paulo, 23.4., 30.4., 7.5., 23.5. e 30.5.1961; A fundação e os primeiros 30 anos de Teutônia. In I
colóquio de estudos
teuto-brasileiros. Porto Alegre:Centro de Estudos Sociais/Faculdade de Filosofia da UFRGS, 1966. p.217-227; Alemães e descendentes - do Rio Grande do Sul - na Guerra do
Paraguai. Canoas: Hilgert, 1968. 204 p. ilustradas com fotografias e mapas; Alfredo Wiedmann - 50 anos de sua morte. Correio do Povo, Porto
Alegre, 09 ago. 1970; A integração dos
imigrantes alemães. Revista Signo, Porto Alegre, n.14, p.14-15,
out. 1974; n.15, p.42-44,
nov. 1974 e n.16, p.21-44, dez.
1974; Os alemães birutas. São Leopoldo: Sinodal, 1974. Tradução de um
trabalho do autor inserido no “Jahrwiser” - 74, p.172-182; A origem dos imigrantes alemães.
Álbum do Sesquicentenário da Colonização Alemã, Porto Alegre: Edel,
1974; Constanz Josephson. Correio do Povo, Porto Alegre, 25 jul.
1975; Apontamentos sobre os judeus alemães no Rio Grande do Sul no tempo do
Império (1822-1889). Anais do 1º
Simpósio do Instituto Histórico de São Leopoldo. São Leopoldo: Rotermund, 1976.
p.183-190; Algumas lideranças alemãs nos
primeiros 20 anos da colonização (1824-1844).
Anais do 2º Simpósio do Instituto Histórico de São Leopoldo. São
Leopoldo: Rotermund, 1978, p.285-302; Os
primeiros alemães no Município de Montenegro. In Montenegro
de ontem e de hoje. São Leopoldo:
Rotermund, 1979, p.159-167. v.1; Os
alemães e a Revolução Farroupilha. Folha da Manhã, Porto Alegre, 20 set.
1979; O esporte do bolão no Rio Grande
do Sul. Anais do IV Simpósio de
História da Imigração no Rio Grande do Sul, São Leopoldo, 1980, p.249-264; Razões
da participação dos alemães na Revolução Farroupilha. Anais do III Colóquio de estudos
Teuto-Brasileiros. Porto Alegre: UFRGS,
1980, p.495-501; A navegação fluvial iniciada pelos colonos
alemães (1825-1845). Anais do 3º
Simpósio do Instituto Histórico de São Leopoldo. Porto Alegre: Escola Superior
de Teologia São Lourenço de Brindes, 1980. p.96-123; Geschichtliches uber Canoas - RS.
Brasil - Post, n. 1873, 08 nov.
1986. p.11. A vinda dos Brummer há 150 anos. Correio do Povo, suplemento Letras & Livros, Porto Alegre, 19 de dezembro de 1981, p. 14.
Estamos resgatando toda a obra de Klaus Becker que se encontra esparsa em antigos periódicos e a publicaremos em breve em nosso blog O POVO DO SUL.
A vinda dos Brummer há 150 anos
Entre junho e outubro de 1851, portanto há 130 anos, aportaram ao Rio Grande do Sul entre 1.770, conforme umas, e 1.850 militares alemães, segundo outras fonte. Esses "mercenários" (originalmente o foram), haviam sido contratados pelo Império Brasileiro para serem aproveitados na Guerra contra o ditador argentino Manuel Rosas. Estes alemães fizeram grandes marchas e contramarchas. Finalmente, só 80 deles participaram da batalha final de Moron (2 de fevereiro de 1852).
Mesmo assim, a contratação desses militares foi um passo certo, devido à contribuição que deram para o progresso cultural e econômico, não só do Rio Grande do Sul (em sua maioria), mas também de Santa Catarina e até do Paraná, em escala decrescente, como não deixa de ser natural, devido à evolução da migração interna nesta parte do Brasil.
O primeiro historiador moderno que se interessou pelos "Brummer" (rezingões) foi o saudoso general Bertholdo Klinger, natural da cidade de Rio Grande. Albert Schmid. historiador alemão, mas radicado aqui, desenvolveu pesquisas a respeito. Atualmente, resolvi continuar com tais sondagens. Trata-se, realmente, de uma turma heterogênea, que se compunha tanto de maus quanto de bons elementos.
Eis a razão porque só em 1881, portanto há 100 anos, surgiu a primeira publicação em língua alemã, o diário do "brummer" Júlio Jorge Schnack, residente em São Caetano ( no atual município de Arroio do Meio). Ao meu ver, é o melhor diário dos sete a oito dos quais temos conhecimento. Comenta ele (em tradução): " Não obtivemos glórias militares no Brasil, o que não nos deve aborrecer. Vencemos nas atividades civis. Claro que tivemos de aguardar o desaparecimento dos elementos não condizentes, para proclamar com orgulho: "Sou um Brummer".
Esta observação não deixa de ser interessante. Por que?
Acontece, como já foi dito, que a primeira publicação de um diário foi feita em 1881, 30 anos após a chagada dos "Brummer". A segunda manifestação aconteceu 10 anos depois, em 1891, e a terceira, 11 anos mais tarde, em 1902, todas em língua alemã.
Por esta sequência paulatina já se vê, quão penosas foram as revelações. De um lado, os Brummer deviam ficar envergonhados, por causa de vários ex-colegas beberrões, que faleceram na miséria. De outro, alguns camaradas já haviam conquistado posições de realce, tanto como funcionários públicos, quanto como comerciantes ou profissões liberais.
Esta evolução contribuiu bastante para que, de 1903 em diante, começasse a proliferar a publicação dos diários. Isso, porém, não consola o historiador porque devido à avançada idade dos sobreviventes, mais atenção se deve prestar à veracidade dos depoimentos. Mas temos a possibilidade de fazer uma comparação entre os seis ou sete diários (existem outros 3 anônimos), para obter uma visão mais ou menos certa. Mesmo assim, permanecem algumas dúvidas.
Para não alongar o presente trabalho, que simplesmente visa lembrar o evento da chegada dos "Brummer" há 130 anos, julgo indispensável mencionar alguns nomes que se destacaram no cenário rio-grandense.
Deveras impressionante é a sua contribuição na área do ensino. Atuaram e tiveram fama como professores os seguintes "Brummer": Andreoli, Antonio - no interior do município de Montenegro; Armbrecht, Cristiano - veio de Teutônia para Porto Alegre; Doebber, Ernesto Germano - Picada Forromeco; Goffard, Adolfo - Bom Jardim (hoje Ivoti); Grunitzky, Otto - em Maratá; Guendel, Roberto - Vera Cruz; Hoefer, Carlos Frederico Adão - Porto Alegre; Hoffmann, Adolfo - no interior de Santa Cruz do Sul; Iserhard, Carlos - Vera Cruz; Jaeger, Francisco Adolfo - Feliz; Jahn, Carlos (professor de música) - Pelotas; Jansen, Carlos Jacó Antonio Cristiano - também editor e jornalista, em Porto Alegre. Keydel, Benno von - Santa Cruz e São Lourenço do Sul; Koop, João - São José do Hortêncio; Lindner, Gustavo - (professor de música) - Porto Alegre; Lotz, Henrique - Taquara do Mundo Novo (hoje Igrejinha?); Meyer, Henrique - Lomba Grande. Descendentes: Emilio e Augusto. Michaelsen, Frederico - Linha Nova e Nova Petrópolis. Descendente: Egydio, ex-candidato a governador do Estado. Mieth, Carlos Oscar - Dois Irmãos; Poettcke, Carlos Frederico Teodoro - em Santa Maria da Boca do Monte e Porto Alegre; Proche, Oscar - Lomba Grande; Reisswitz, Frederico Guilherme von - Campo Bom; Roehe, Henrique Harry - Dois Irmãos; Rogge, Jacó - (professor de dança) - Porto Alegre; Saul, Francisco - na colônia de Taquara do Mundo Novo; Schaefer, Cristovão - (é pastor) - Igrejinha) Schneider, Frederico - Santa Maria da Boca do Monte; Schoenell, Frederico - (é historiador de) - Maratá; Toillier, Roberto - Santa Cruz do Sul. Um descendente seu é hoje diretor do Colégio Mauá, daquela cidade.
Wedel, Roberto von - Feitoria Velha; Wichamann, Carlos - São Lourenço do Sul (e talvez também Canguçú);
Em segundo lugar mencionarei os artífices (dos quais vários posteriores iniciadores da indústria rio-grandense) e que seriam: Brebrens, Carlos, pedreiro, falecido em fins de 1886 em São Francisco de Assis; Burmeister, Carlos, ourives - São Leopoldo; Dettenborn, Carlos, açougueiro e fabricante de sabão, em Santa Cruz do Sul, hoje com larga descendência no município de Venâncio Aires; Eggers, Henrique Frederico, sapateiro - Porto Alegre; Feldmann, Carlos, sapateiro - Porto Alegre; Fehse, Hugo - fábrica de charutos- Porto Alegre; Gieseler, Eduardo - fábrica de charutos - Porto Alegre; Lau, João , sapateiro - Porto Alegre; gosh, Carlos, marceneiro e carpinteiro em Passo Fundo; Gundlch, Adolgo Henrique, tipografia e Livraria em Porto Alegre; Lanzac-Chaunac, Conde Augusto de Litógrafo - Porto Alegre; Mangner, Augusto, sapateiro - Jaguarão; Merkel, Carlos, açougueiro e hoteleiro - Dois Irmãos; Messerschmidt, Augusto - fazendeiro em Júlio de Castilhos; Nagel, Frederico - alambique em Rio Pardinho (Santa Cruz do Sul); Nitzke, Francisco Augusto, padeiro - Pelotas e Porto Alegre; Petersen, João Cristiano Teodoro, fabricante de charutos, Porto Alegre; Rudolph, Carlos Gottlieb, relojoeiro - Tapes; Wendt, Fernando, sapateiro - Porto Alegre; Wichmann, João Henrique, ferreiro - Rio Pardo e Porto Alegre; Como agrimensores e também diretores de colônias conhecemos, entre outros: Brinckmann, Otto - Santa Maria da Boca do Monte; Grote-Tex, Guilherme - Porto Alegre e Bagé; Gaertner, Carlos (posteriormente também empresário) - Porto Alegre; Jahn, Adalberto - São Leopoldo; Kahlden, barão Carlos von - Agudo e São Lourenço do Sul; Koboldt, Gustavo - Maratá e São Gabriel; Lischke, Paulo Maurício - Porto Alegre (também engenheiro); Muezell, Carlos Ernesto - São Leopoldo; Rue, Francisco Lotário de La - Porto Alegre e Teutônia; Tiedemann, Otto Edger von - Porto Alegre e ?; Oye, Rodolfo Schimmelpfennig von der - Nova Petrópolis.
Foram comerciantes e posteriores empresários os seguintes: Bormann, Guilherme (atacado de secos e molhados) - Porto Alegre, pai do futuro Ministro da Guerra, marechal José Bernardino Bormann. Born, Henrique (comerciante) - Porto Alegre; Curtius, Júlio, proprietário e redator de jornal em língua alemã - São Leopoldo; Dannemann, Jorge Guilherme (venda) - Porto Alegre. Seus descendentes foram os fabricantes dos famosos charutos Fehse, João Germano (tabacaria) - Porto Alegre; Guenther, Martin (casa comercial) - São Gabriel, lá conhecido como Guindo; Klein, João Alexandre (casa comercial) - Hamburgo Velho e Porto Alegre; Lenz, Cristóvão (comerciante e músico) - Porto Alegre; Riethmueller, Henrique (atacado de carnes) - Pelotas; Ruhmann, Guilherme (hoteleiro) - São Leopoldo e Porto Alegre; Schultz, Gustavo 9açougueiro) - Porto Alegre; Stieher, Otto (correspondente de Carlos von Koseritz, para o "Deutsche Zeitung", na guerra do Paraguai) - Porto Alegre.
(Correio do Povo, suplemento Letras & Livros, Porto Alegre, 19 de dezembro de 1981, p. 14)
Estamos resgatando toda a obra de Klaus Becker que se encontra esparsa em antigos periódicos e a publicaremos em breve em nosso blog O POVO DO SUL.
Armando Würth (discursando), Geraldo Gilberto Ludwig (prefeito de Canoas), Klaus Becker, Hernani Fibronio de Freitas, João Palma da Silva, entre outros não identificados.
Klaus Becker, sentado, no Bar do Kako em Canoas
Trabalhos de Klaus Becker publicados em periódicos.
Relacionamos a partir daqui textos que o autor divulgou pela imprensa e que não foram publicados em livro.
A vinda dos Brummer há 150 anos
Entre junho e outubro de 1851, portanto há 130 anos, aportaram ao Rio Grande do Sul entre 1.770, conforme umas, e 1.850 militares alemães, segundo outras fonte. Esses "mercenários" (originalmente o foram), haviam sido contratados pelo Império Brasileiro para serem aproveitados na Guerra contra o ditador argentino Manuel Rosas. Estes alemães fizeram grandes marchas e contramarchas. Finalmente, só 80 deles participaram da batalha final de Moron (2 de fevereiro de 1852).
Mesmo assim, a contratação desses militares foi um passo certo, devido à contribuição que deram para o progresso cultural e econômico, não só do Rio Grande do Sul (em sua maioria), mas também de Santa Catarina e até do Paraná, em escala decrescente, como não deixa de ser natural, devido à evolução da migração interna nesta parte do Brasil.
O primeiro historiador moderno que se interessou pelos "Brummer" (rezingões) foi o saudoso general Bertholdo Klinger, natural da cidade de Rio Grande. Albert Schmid. historiador alemão, mas radicado aqui, desenvolveu pesquisas a respeito. Atualmente, resolvi continuar com tais sondagens. Trata-se, realmente, de uma turma heterogênea, que se compunha tanto de maus quanto de bons elementos.
Eis a razão porque só em 1881, portanto há 100 anos, surgiu a primeira publicação em língua alemã, o diário do "brummer" Júlio Jorge Schnack, residente em São Caetano ( no atual município de Arroio do Meio). Ao meu ver, é o melhor diário dos sete a oito dos quais temos conhecimento. Comenta ele (em tradução): " Não obtivemos glórias militares no Brasil, o que não nos deve aborrecer. Vencemos nas atividades civis. Claro que tivemos de aguardar o desaparecimento dos elementos não condizentes, para proclamar com orgulho: "Sou um Brummer".
Esta observação não deixa de ser interessante. Por que?
Acontece, como já foi dito, que a primeira publicação de um diário foi feita em 1881, 30 anos após a chagada dos "Brummer". A segunda manifestação aconteceu 10 anos depois, em 1891, e a terceira, 11 anos mais tarde, em 1902, todas em língua alemã.
Por esta sequência paulatina já se vê, quão penosas foram as revelações. De um lado, os Brummer deviam ficar envergonhados, por causa de vários ex-colegas beberrões, que faleceram na miséria. De outro, alguns camaradas já haviam conquistado posições de realce, tanto como funcionários públicos, quanto como comerciantes ou profissões liberais.
Esta evolução contribuiu bastante para que, de 1903 em diante, começasse a proliferar a publicação dos diários. Isso, porém, não consola o historiador porque devido à avançada idade dos sobreviventes, mais atenção se deve prestar à veracidade dos depoimentos. Mas temos a possibilidade de fazer uma comparação entre os seis ou sete diários (existem outros 3 anônimos), para obter uma visão mais ou menos certa. Mesmo assim, permanecem algumas dúvidas.
Para não alongar o presente trabalho, que simplesmente visa lembrar o evento da chegada dos "Brummer" há 130 anos, julgo indispensável mencionar alguns nomes que se destacaram no cenário rio-grandense.
Deveras impressionante é a sua contribuição na área do ensino. Atuaram e tiveram fama como professores os seguintes "Brummer": Andreoli, Antonio - no interior do município de Montenegro; Armbrecht, Cristiano - veio de Teutônia para Porto Alegre; Doebber, Ernesto Germano - Picada Forromeco; Goffard, Adolfo - Bom Jardim (hoje Ivoti); Grunitzky, Otto - em Maratá; Guendel, Roberto - Vera Cruz; Hoefer, Carlos Frederico Adão - Porto Alegre; Hoffmann, Adolfo - no interior de Santa Cruz do Sul; Iserhard, Carlos - Vera Cruz; Jaeger, Francisco Adolfo - Feliz; Jahn, Carlos (professor de música) - Pelotas; Jansen, Carlos Jacó Antonio Cristiano - também editor e jornalista, em Porto Alegre. Keydel, Benno von - Santa Cruz e São Lourenço do Sul; Koop, João - São José do Hortêncio; Lindner, Gustavo - (professor de música) - Porto Alegre; Lotz, Henrique - Taquara do Mundo Novo (hoje Igrejinha?); Meyer, Henrique - Lomba Grande. Descendentes: Emilio e Augusto. Michaelsen, Frederico - Linha Nova e Nova Petrópolis. Descendente: Egydio, ex-candidato a governador do Estado. Mieth, Carlos Oscar - Dois Irmãos; Poettcke, Carlos Frederico Teodoro - em Santa Maria da Boca do Monte e Porto Alegre; Proche, Oscar - Lomba Grande; Reisswitz, Frederico Guilherme von - Campo Bom; Roehe, Henrique Harry - Dois Irmãos; Rogge, Jacó - (professor de dança) - Porto Alegre; Saul, Francisco - na colônia de Taquara do Mundo Novo; Schaefer, Cristovão - (é pastor) - Igrejinha) Schneider, Frederico - Santa Maria da Boca do Monte; Schoenell, Frederico - (é historiador de) - Maratá; Toillier, Roberto - Santa Cruz do Sul. Um descendente seu é hoje diretor do Colégio Mauá, daquela cidade.
Wedel, Roberto von - Feitoria Velha; Wichamann, Carlos - São Lourenço do Sul (e talvez também Canguçú);
Em segundo lugar mencionarei os artífices (dos quais vários posteriores iniciadores da indústria rio-grandense) e que seriam: Brebrens, Carlos, pedreiro, falecido em fins de 1886 em São Francisco de Assis; Burmeister, Carlos, ourives - São Leopoldo; Dettenborn, Carlos, açougueiro e fabricante de sabão, em Santa Cruz do Sul, hoje com larga descendência no município de Venâncio Aires; Eggers, Henrique Frederico, sapateiro - Porto Alegre; Feldmann, Carlos, sapateiro - Porto Alegre; Fehse, Hugo - fábrica de charutos- Porto Alegre; Gieseler, Eduardo - fábrica de charutos - Porto Alegre; Lau, João , sapateiro - Porto Alegre; gosh, Carlos, marceneiro e carpinteiro em Passo Fundo; Gundlch, Adolgo Henrique, tipografia e Livraria em Porto Alegre; Lanzac-Chaunac, Conde Augusto de Litógrafo - Porto Alegre; Mangner, Augusto, sapateiro - Jaguarão; Merkel, Carlos, açougueiro e hoteleiro - Dois Irmãos; Messerschmidt, Augusto - fazendeiro em Júlio de Castilhos; Nagel, Frederico - alambique em Rio Pardinho (Santa Cruz do Sul); Nitzke, Francisco Augusto, padeiro - Pelotas e Porto Alegre; Petersen, João Cristiano Teodoro, fabricante de charutos, Porto Alegre; Rudolph, Carlos Gottlieb, relojoeiro - Tapes; Wendt, Fernando, sapateiro - Porto Alegre; Wichmann, João Henrique, ferreiro - Rio Pardo e Porto Alegre; Como agrimensores e também diretores de colônias conhecemos, entre outros: Brinckmann, Otto - Santa Maria da Boca do Monte; Grote-Tex, Guilherme - Porto Alegre e Bagé; Gaertner, Carlos (posteriormente também empresário) - Porto Alegre; Jahn, Adalberto - São Leopoldo; Kahlden, barão Carlos von - Agudo e São Lourenço do Sul; Koboldt, Gustavo - Maratá e São Gabriel; Lischke, Paulo Maurício - Porto Alegre (também engenheiro); Muezell, Carlos Ernesto - São Leopoldo; Rue, Francisco Lotário de La - Porto Alegre e Teutônia; Tiedemann, Otto Edger von - Porto Alegre e ?; Oye, Rodolfo Schimmelpfennig von der - Nova Petrópolis.
Foram comerciantes e posteriores empresários os seguintes: Bormann, Guilherme (atacado de secos e molhados) - Porto Alegre, pai do futuro Ministro da Guerra, marechal José Bernardino Bormann. Born, Henrique (comerciante) - Porto Alegre; Curtius, Júlio, proprietário e redator de jornal em língua alemã - São Leopoldo; Dannemann, Jorge Guilherme (venda) - Porto Alegre. Seus descendentes foram os fabricantes dos famosos charutos Fehse, João Germano (tabacaria) - Porto Alegre; Guenther, Martin (casa comercial) - São Gabriel, lá conhecido como Guindo; Klein, João Alexandre (casa comercial) - Hamburgo Velho e Porto Alegre; Lenz, Cristóvão (comerciante e músico) - Porto Alegre; Riethmueller, Henrique (atacado de carnes) - Pelotas; Ruhmann, Guilherme (hoteleiro) - São Leopoldo e Porto Alegre; Schultz, Gustavo 9açougueiro) - Porto Alegre; Stieher, Otto (correspondente de Carlos von Koseritz, para o "Deutsche Zeitung", na guerra do Paraguai) - Porto Alegre.
(Correio do Povo, suplemento Letras & Livros, Porto Alegre, 19 de dezembro de 1981, p. 14)
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