domingo, 13 de outubro de 2019


O MITO DO GAÚCHO
Texto de Dari José Simi
Ao longo da História o sentido da palavra gaúcho passou por profundas transformações. Por volta de 1787, ocorreu o primeiro registro da palavra gaúcho, documentado por José de Saldanha em seu diário: “palavra espanhola usada neste país para designar os vagabundos ou ladrões do campo que matam os touros chimarrões, tiram-lhes o couro e vão vender ocultamente nas povoações”. Mais tarde, estancieiros motivados pela necessidade de mão-de-obra especializada no manejo de gado e na lide campeira, passaram a incorporar esses gaúchos nas suas estâncias. Com o passar do tempo, esse vocábulo também passou a ser empregado para designar os demais trabalhadores da estância: peões, campeiros, diaristas...
Contudo, a modificação radical do significado da palavra gaúcho foi obra da literatura, tendo a História servido como um pano de fundo para a criação mítica do personagem gaúcho. Prova disso, são os personagens de Caldre e Fião nos seus romances A Divina Pastora e O Corsário e de Apolinário Porto Alegre em O Vaqueano, que serviram para modificar o sentido pejorativo do gaúcho e transformá-lo em “monarca das coxilhas”,homens corajosos, leais e libertários.
O tradicionalismo deu ainda mais força ao mito do gaúcho, que foi criado pela literatura. A crença de que os Centros de Tradições Gaúchas fossem guardiãs do passado heroico do gaúcho, contribuiu para que esse ser mítico fosse um ser coerente com a História. Essa figura, a qual as pessoas se identificam erroneamente, serviu de padrão para construir uma identidade riograndense até hoje. Em todas as áreas, do lazer ao conhecimento, da música às artes plásticas, o ser inventado se impôs como o ser da coerência histórica. O último resquício tradicional, representado pelos campeiros, devido à incultura, acabou por aderir ao padrão citadino de gaúcho. Em um movimento cultural, os tradicionalistas foram além e criaram uma cultura em cujo epicentro se posicionaram como os herdeiros protótipos da identidade rio-grandense.
A partir dessa crença, que já persiste por tanto tempo, se entende o motivo pelo qual o gaúcho se tornou, conforme Luiz Marobin (A Literatura no Rio Grande do Sul), “uma atitude mental, um esquema psíquico, que atua no subconsciente”. Segundo este autor, os gaúchos, independente de suas diferenças são levados por um sentimento interior de unidade, que os distingue dos demais habitantes do restante do país. Por outro lado, Antonio Augusto Fagundes (E o gaúcho morreu? - In "Nós, os gaúchos) chama a atenção para um outro olhar sobre a visão do gaúcho e aponta para a crescente expansão do gauchismo, principalmente nos Centros de Tradições Gaúchas, onde “gente que deixou o campo recriou na cidade o pagus idealizado”.
Há mais de um século que se criou o “Monarca das Coxilhas”, e, entretanto, é ainda essa imagem mental do gaúcho que ganha projeção na cultura rio-grandense. De certa forma, a criação do mito do gaúcho herói foi tão importante para a cultura rio-grandense. Esse mito ajudou a criar uma identidade e um senso de autoafirmação em um povo que, anteriormente, não tinha consciência de quem era ou a quem pertencia, devido aos vários conflitos, guerras, revoluções e sucessivas mudanças no território gaúcho.










































 











EXPOSIÇÃO “HISTÓRIAS DO SUL”

Nosso acervo particular de antiguidades gaúchas está em uma exposição no Museu Municipal Hugo Simões Lagranha, situado na Av. Victor Barreto, nº 2186, centro de Canoas. A exposição tem por título “Histórias do Sul.” A mostra faz parte da 13ª Primavera de Museus, promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus, com o apoio da Secretaria Municipal da Cultura e do Turismo de Canoas. Está aberta para a visitação pública durante todo o mês de setembro de 2019 , nos horários de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h e aos sábados das 14h às 18h.
Resgatar os hábitos e os costumes do povo sulista dos séculos XIX e XX é o objetivo principal da exposição, que conta com instrumentos musicais, armas brancas, ferramentas diversas, objetos domésticos, material indígena, livros, pinturas, documentos, etc.
Os objetos expostos trazem lembranças aos mais velhos e aguçam a curiosidade dos jovens e crianças, projetando um cenário imaginário da vida campeira gaúcha.
Visitas guiadas podem ser agendadas pelos e-mail:
Ivone. frare@Canoas.rs.gov.br e edison.rosa@Canoas.rs.gov.br.































O CLARIM FARROUPILHA

“Era um humilde. Duas coisas, apenas, bastavam para encher sua vida de modesto filho de posteiro gaúcho: seu clarim e a irredutivel fidelidade a Bento Gonçalves.
Em Sarandi,India Muerta, Passo do Rosário, Jaguarão, onde quer que o Herói estivesse e pelejasse, lá estaria Antônio Ribeiro transmitindo vozes de comando, pelas notas sonoras de seu instrumento.
Em 19 de setembro de 1835, na estrada de Viamão, numerosa cavalaria descansava. Os Cavaleiros, com os animais pela rédea, sem abandonar a ordem de marcha, fumavam, sentados na relva, fazendo comentários e prognósticos sobre os acontecimentos que começavam a desenrolar-se.
Afastados da tropa, Bento Gonçalves e Onofre Pires falavam, em voz baixa, trocando impressões e combinando planos. A poucos passos, o velho clarim permanecia em silêncio, de pé, apoiando-se sobre o cavalo ensilhado, o olhar atento aos menores gestos do Chefe.
Em dado momento, este faz um sinal e, logo, Antônio Ribeiro, levando o metal à boca, dá o toque de “sentido” sem adivinhar, certamente, que esse toque acordava o Rio Grande para uma luta de dez anos.
Os cavaleiros montam vivamente e, guiados por Onofre Pires, iniciam a caminhada vitoriosa para a conquista de Porto Alegre.
Daí por um decênio, o clarim não cessou de vibrar.
Taquari, Vacaria, Rio Pardo, São José do Norte, Alegrete, Pelotas, Triunfo, Ponche Verde...
Toques frementes de avançar, clarinadas alegres de vitórias, notas melancólicas de retiradas, entre lamentações de derrotas.
Durante dez anos...
Sonorizando as cochilhas, sobrepondo-se ao zunido dos ventos fortes, em dias invernosos, acordando os rebanhos e os quero-quero, nas calmas noites de verão, rolando harmoniosa e clara pelas canhadas do pago.
Em 1847 tocou pela última vez, quando descia ao seio da terra o corpo do Chefe idolatrado.
Depois emudeceu.
Mais tarde, quando o levaram à sepultura anônima, respeitaram-lhe a última vontade, sepultando com ele o clarim, seu companheiro inseparável de toda a vida.
No entanto, já muitos anos depois, andantes ou campeiros, que, em noites de grande calma, cruzavam a planície adormecida, acreditavam ouvir notas sonoras, como de um clarinar distante.
Era, diziam, a alma de Antônio Ribeiro vibrando seu velho clarim de guerra, chamando os lutadores tombados no Pampa, para recomeçar a grandiosa epopeia dos farrapos.”
Assim escreveu, conforme sua imaginação, o historiador Arthur Ferreira Filho, em seu livro “Legendas do Rio Grande”, de 1950, as lendárias peripécias de Antônio Ribeiro e seu clarim farroupilha.
“Gesta de um clarim”, longo poema de Guilherme Schultz Filho: três estrofes apenas, para não alongar mais:
Cemitério do Cordeiro,
Encostas do Camaquã
Ouvia-se de manhã
O som de um clarim guerreiro.
Dizem que Antônio Ribeiro
Vinha ali ao clarear do dia,
Em cívica romaria
À sepultura de Bento.
E do glorioso instrumento
De memoráveis campanhas
Tirava notas estranhas
De estranhas sonoridades,
Acordando as soledades
Das quebradas ignotas...












quarta-feira, 24 de julho de 2019





JORNAL O TAQUARYENSE
Texto de Dari J. Simi
Recentemente estive na cidade de Taquari visitando amigos e aproveitei a oportunidade para conhecer o jornal O Taquaryense. O segundo jornal mais antigo do Rio Grande do Sul ainda em circulação. E tem mais, é o único jornal da América Latina que ainda utiliza tipos móveis e impressão do mesmo sistema, desde quando iniciou em 1887 até os dias de hoje.
O Taquaryense nasceu em 31 de julho de 1887, do sonho de Albertino Saraiva. A primeira edição foi entregue na residência dos taquarienses pelo próprio fundador. Junto com a esposa, Joanna Gomes Saraiva, ele confeccionava o jornal – escrevia, fazia a composição das páginas com o uso dos tipos móveis e colocava-as na prensa. Joanna era responsável por cortá-las e dobrá-las.
Nos dois primeiros anos d’O Taquaryense, a impressão era feita num prelo manual, na oficina gráfica de Tristão de Azevedo Vianna. Por isso, o nome de Tristão consta no cabeçalho das primeiras edições como proprietário do jornal. Após esse período, a família Saraiva adquiriu o prelo de Tristão. Em 1910, este foi substituído pela rotativa Marinoni. Fabricada em Paris, a impressora foi comprada do Correio do Povo e é usada, até hoje, para imprimir o semanário.
Falecido em 1928, o fundador d’O Taquaryense não pôde ver a rotativa Marinoni deixar de funcionar com o motor a querosene. Anos antes de a energia elétrica chegar a Taquari – o que ocorreu na década de 1930 –, Albertino Saraiva sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), enquanto redigia uma notícia.
Com a morte de Albertino, o jornal passou a ser administrado pelos filhos que, desde criança, auxiliavam o pai na confecção do periódico. Em 1928, Mário Saraiva assumiu como tipógrafo do semanário e Leonel Theodorico Alvim, amigo de Albertino, passou a ser o redator. Irmão de Mário, Plínio Saraiva assumiu como gerente de 1947 a 1990. Também em 1947, Nardy de Farias Alvim (1947-1966), João Carlos Teixeira (1947-1985) e Pery Saraiva (1947-1990) passaram a ser diretores do jornal.
O Taquaryense foi impresso, sem interrupções, desde sua fundação até 1956, quando, devido a uma deficiência visual, Mário ficou impossibilitado de confeccioná-lo. A publicação deixou de ser produzida entre 8 de setembro de 1956 e 13 de janeiro de 1962. Filha de Plínio, Flávia Saraiva Dias conta que outro fator também contribuiu para a interrupção: as máquinas utilizadas para confeccionar o periódico estavam na casa de Mário e sua esposa não as queria mais lá.
O prédio no qual O Taquaryense funciona até hoje, foi construído enquanto o jornal deixou de circular. A construção foi finalizada em 1961 e saiu do papel com o auxílio de amigos da família Saraiva e do então prefeito de Taquari, João Eduardo Bizarro. O semanário voltou à ativa devido aos esforços de João Carlos Bizarro Teixeira, Pery Saraiva, Nardy de Farias Alvim (filho de Leonel Theodorico Alvim) e Plínio Saraiva (tio de Pery e da esposa de João Teixeira).
Depois de atuar como gerente por 43 anos, Plínio assumiu como diretor e editor do jornal em 1990 e permaneceu no posto até 9 de agosto de 2004, quando faleceu, aos 101 anos. No mesmo ano, foi firmada uma parceria entre O Taquaryense e o Centro Universitário Univates, de Lajeado. Intitulada Projeto Cultural O Taquaryense, a iniciativa propunha resgatar e preservar o periódico a partir da recuperação do acervo e das instalações físicas. Além disso, visava garantir que o veículo preservasse e desse continuidade às formas originais de produção, edição, impressão e circulação. A instituição de ensino assumiu financeiramente o semanário entre janeiro de 2005 e dezembro de 2006. Nesse período, Flávia Saraiva Dias continuou as atividades antes desenvolvidas pelo pai. Em 16 de abril de 2005, por meio do projeto, O Taquaryense foi inaugurado como Museu-Vivo de Comunicação.
Com a rescisão do contrato com a Univates, o jornal não circulou no primeiro semestre de 2007. Nesse período, um comitê com representantes da família Saraiva, da indústria e do comércio local articulou a revitalização d’O Taquaryense. Em 28 de julho de 2007, ele voltou a ser entregue aos assinantes.
Em 2010, o Ministério Público e a administração municipal de Taquari assinaram um Termo de Ajuste de Conduta no qual o prefeito à época, Ivo Lautert, se comprometeu a fazer o encaminhamento necessário para que O Taquaryense fosse tombado como patrimônio histórico e cultural do município. A autoria do inquérito foi da então promotora pública da Comarca de Taquari, Andrea Almeida Barros.
Em 2013, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE) tombou bens móveis e integrados do jornal O Taquaryense. O tombamento incluiu o acervo de edições e os bens relacionados ao processo de produção do semanário.
Frente do jornal



Tipos móveis

Antigo prelo que imprimiu 
as primeiras edições do jornal


Impressora Marinoni ainda em atividade


Primeira edição do jornal O Taquaryense

Tipos móveis


Plinio Saraiva, antigo diretor do jornal

Antigo motor a querosene

Primeira máquina de escrever, ainda em atividade


Impressora rotativa Marinoni


Compondo textos para o jornal




Guilhotina






sábado, 6 de abril de 2019




FORROBODÓ NO BOLICHO
Segundo os dicionários da língua portuguesa, forrobodó é baile popular, baile caseiro, arrasta-pé, forró, farra, festança, bochincho, baileco, baile chinfrim.
O mais provável é que forró, baile popular em que casais dançam ao som de ritmos nordestinos seja simplesmente a forma reduzida de forrobodó, termo existente no português desde o século XIX e de significado igualmente festivo, embora não restrito unicamente ao Nordeste do Brasil.
Tirei lá do fundo do baú um caderno de poemas copiados por mim há mais de 50 anos, de um velho almanaque, onde encontrei o poema de Lauro Pulga, Forrobodó no Bolicho.  Esse poema escutei pela primeira vez sendo declamado em uma emissora de rádio da cidade de Jaguari, RS. Do autor, Lauro Pulga, nada encontrei até hoje. Acredito que esse nome seja um pseudônimo.

FORROBODÓ NO BOLICHO
Poema de Lauro Pulga

Buenas tardes, companheiros,
Peço um naco de atenção...
Vão puxando das cadeiras
E se assentando pelo chão.
Vou contar-lhes nessa trova,
 uma linda narração...

Numa tarde de domingo,
Lá pras bandas do Cerrito,
Chega um cabra no bolicho,
Resmungando pro Chiquito:
- Vamo vê, seu bolicheiro,
Passe logo um bom traguito!

E o seu Chico, arrenegado,
Foi falando pro negrote:
-Meu rapaz, não enche os tubos
Que eu destampo o teu cangote,
Largo o relho no teu lombo
E tu vai sair a trote...

Foi então que um bando feio
Veio entrando porta afora:
Eram cabras quixotescos,
Eram tipos lambisporas:
Calças largas, lenços velhos,
De chinelos com esporas...
Dez focinhos de moleque
Que faz beiço mas não chora...

Vão entrando barulhentos,
Se encostando no balcão,
Reclamando vinte tragos,
Ou melhor, um garrafão,
Porque os tipos quando bebem,
Sobra só copo na mão !

Vem um trago e vai um trago,
Desce pinga até a botina
E um sujeito, cola chata,
Já gritou com cara fina:
- Pois nóis semo que nem forde
Que não vai sem gazulina !!!

O Maneco das tranqueiras
Se torcia no violão
E o Joaquim dava compasso
Com o cabo do facão,
Mas o Juca Viralata
Namorava o garrafão...

Era aquele vira e mexe
Na salinha do bolicho:
O pessoal saracoteava
Que nem rato na macega
E o valente Bocatorta
Deu o tom dessa refrega:
- Tome nota, pichotada,
Que quem manda aqui é o dega
E você, seu violoneiro,
Vai largando mais um péga...

- Mas não mesmo, seus malandros,
Não me venham com bobagem !
Reclamou o bolicheiro,
Demonstrando sua linhagem...
- Não permito bagunceira,
Nem sequer por homenagem
E si alguém quer criar caso,
Pois que vá seguindo viagem !!!

Barbicacho ! É a tal da coisa:
Quem mais bate mais entorta,
Pois, erguendo o seu “formiga”,
Berrou logo o Bocatorta:
- Cala a boca, bolicheiro,
Seu nariz de vaca morta
Que te tiro o couro a talho
E o penduro nesta porta !!!

E o Chiquito dava pinga,
Sem largar outra ameaça...
Só, de vez, dizia baixo:
- Vai pro diabo, triste raça,
Que, prá mim, nessas barrigas,
Há enchente de cachaça...

Mas a turma nem ligava
E seguia na festança...
Neste ponto o Bocatorta
Pega prato na balança,
Bate cinco ou sete vezes,
Dando ordem sem tardança:
- Tá na hora, minha gente,
Vamo entrá logo na dança !

Ninguém mais ficou parado
E era aquele bate espora...
As barricas que estorvavam
Foram postas lá prá fora
E os erguidos pela pinga,
Só dançavam com escora...


E a cachaça ia subindo
Ao sabor da bebedeira...
Vai agora o Bocatorta
E comanda da cadeira:
- Tocadores pro balcão
E o Joaquim prá prateleira
Prá que todos encherguemos
O compasso da rancheira !

O Joaquim ficou danado,
Fez nariz de lobo mau,
Mas foi logo obedecendo
Que sinão corria pau...
Se encravou na prateleira
Que nem velho pica-pau !!!

De repente se despenca
Cai por riba do balcão,
Esparrama os tocadores,
Faz em cacos o violão...
Dessa vez nem Bocatorta
Põe em paz a situação...

A bagunça já começa,
A cachaça faz o efeito:
- Porque este, porque aquele,
Porque aquilo não é jeito...
E o facão vai descambando
No nariz de algum sujeito...

Bocatorta grita e manda,
Ninguém ouve suas asneiras
E os facões abrem picadas,
Voam latas e madeiras...
Vinte cortes vacinaram
O Maneco das Tranqueiras
E o Joaquim já está tapando
Oito rombos nas cadeiras !!!

O valente Bocatorta
Virou quase lobisome:
- Macacada – berrou ele –
Vô mostrá que o dega é home !
Já atorei dezoito orêia
Desses cabra sem renome...
Joguei nacos de costela
Prum cuscão louco de fome !
Si não racho vocês tudo
Que me mudem já de nome!!!

Mas no forte do entrevero,
Quando a coisa estava feia,
Entra um grupo de polícias,
Dando cabo da peleia...
Prende o bando de borrachos,
Passa todos na correia...

E o polícia comandante
Lhes gritou de cara cheia:
- Seus malandros, beberrões,
Não se abusa em casa alheia...
Nesses bailes furdunceiros
Tudo acaba é na cadeia !!!













domingo, 10 de fevereiro de 2019






RÁDIO REAL DE CANOAS

A Rádio Real de Canoas - Emissora integrada da "Rede Princesa", foi inaugurada em 21 de junho de 1960, pelo radialista canoense Luiz Carlos Bauer, que foi seu primeiro diretor.
Essa emissora sempre procurou dar oportunidade aos músicos e compositores nativistas e sertanejos de Canoas. Estimulava, assim, os talentos locais. Também artistas de outras localidades vizinhas abrilhantavam a programação da Real.
Ao longo das décadas de 60, 70 e 80, foram muitos os programas radiofônicos da Real, que transmitiam ao público canoense, em apresentações de palco, a nossa autêntica música regionalista. Tinha grande  aceitação popular  as músicas caipira e sertaneja nos primeiros anos da Rádio Real. Mas a música gauchesca não era esquecida. Duplas queridas dos canoenses apresentavam-se nos estúdios da Real. De grande audiência era o programa "Noites Gaúchas", nos anos 60, produzido por João Palma da Silva, que na ocasião era o Diretor Social da emissora. Jamil Cecin Toledo, radialista, locutor, apresentava o programa Noite Sertaneja na Real dos anos 70/80. Felisberto Meireles tinha o programa Pampa e Sertão na Rádio.  
O público deliciava-se com a dupla "Irmãos Ytu"; os "Irmãos Santos"; a dupla caipira de São Paulo, "Inhô Zé e Inhô Pinho"; os irmãos "Osmar e Orlando Setembrino Nogueira"; a dupla sertaneja "Prateado e Belinho", entre outras. 
Irmãos Santos - Rui Batista dos Santos e Asteróide Batista dos Santos - dupla que  apresentava o programa Noites Gaúchas, pela Rádio Real de Canoas, nos anos 60. Os Irmãos Santos também tocaram no programa Rodeio Coringa, da Rádio Gaúcha de Porto Alegre. A dupla animou a programação da Rádio Real de Canoas, com suas músicas gauchescas.
O jornal canoense Minha Querência  (culturadaquerencia.blogspot.com) entrevistou um dos componentes da dupla de música gauchesca, Irmãos Santos, o Asteróide, hoje com mais de 70 anos.
“A dupla canoense Irmãos Santos, Rui e Asteróide, foi montada em 1958 e em 1960 começamos o programa Noites Gaúchas, na Rádio Real de Canoas e fomos até 1964. Participavam artistas como Teixeirinha, Mary Terezinha, José Mendes, Darci Silva e tantos outros. Tínhamos patrocinadores e até chegamos a gravar um LP. Tudo era muito difícil. Naquela época era ou bem a música, ou bem o  serviço. Optamos pelo serviço, pois a música era muito difícil.  Fomos a Curitiba e gravamos pela gravadora Araucária, naquele tempo era um bolachão  (Long Play 78 RPM), era difícil, tínhamos que mandar dinheiro prá eles (reserva de mercado) prá largar 100 discos na praça, mas não deu certo. Ainda tenho o contrato assinado guardado em casa.
Estivemos em Curitiba, depois viemos a Blumenau, tocamos na Rádio Blumenau, fizemos programas por lá, arrumamos patrocinadores naqueles dias, depois viemos a Tubarão, onde temos parentes ali.  Na Rádio Tubá, da cidade de Tubarão fizemos programas, enfim, depois viemos pra Araranguá. Na Rádio Araranguá  também fizemos programas e viemos vindo chegando em casa, foi muito lindo aquele passeio, aquela festa. Chegamos e recomeçamos na Rádio Real de Canoas.
Nós tínhamos muitos ouvintes, no interior, nós fizemos festas, inclusive a Erva Mate Saphira era  nosso patrocinador e nós  fazíamos shows nos cinemas de Canoas. No cinema Rio Branco fizemos a festa, levamos muita erva, distribuímos para o  pessoal e era assim que nós andávamos por toda Canoas. No cinema São Luis, cinema Niterói, inclusive quando vinham os artistas do Rio e São Paulo como Tonico e Tinoco nós fazíamos a abertura dos shows e era muito bonito aquilo tudo, o Teixeirinha vinha também no nosso programa da Rádio Real de Canoas. A dupla Irmãos Santos terminou em 1967.”
Hoje Asteróide trabalha com couro, fabricando chinelos e botas campeiras ali na Casa do Sapateiro, na Gonçalves Dias, centro de Canoas. Seu irmão, o Rui, faleceu em 2006, com 69 anos de idade.
A Rádio Real teve grandes apresentadores de programas gauchescos e sertanejos. Destaque para Juan Darcy, que também foi diretor da emissora em 1967. Apresentou "Terra Nativa" e "Charla de Galpão". Edu Rocha, o radialista que trouxe para a Rádio Real a dupla Nhô Zé e Nhô Pinho, artistas que tocavam na Rádio Itaí de Porto Alegre.  Edu Rocha foi o fundador da Orquestra Tabajara, nos anos 50, que apresentava-se na Rádio Continental de Porto Alegre; era sargento da Aeronáutica de Canoas; violonista e apresentador de programas gauchescos da Rádio Real. Chimarreando na Querência, era um dos mais antigos programas tradicionalistas do rádio gaúcho, apresentado aos sábados das 12 às 14 horas na Rádio Real de Canoas, por Gontran Goulart, o poeta do Alegrete.
Nos anos de 1991 e 1992, Juan Darcy publicou a coluna "Terra Nativa" no jornal canoense "Expresso do Vale", com notícias dos CTGs da Grande Porto Alegre e  textos de história, folclore, tradicionalismo, chasques, etc.
Miraguaio e Bernardinho - Eram os animadores do programa "Rancho do Miraguaio", que ia ao ar todos os domingos das 18 às 19 horas, pela Rádio Real de Canoas., com músicas sertanejas e gauchescas.
Prateado e Belinho era uma dupla sertaneja surgida em Canoas nos anos 60. Tem gravados  dois discos.
Em uma nova postagem informaremos mais dados sobre essa dupla nascida em Canoas.
Artistas da capital gaúcha apresentavam-se com frequência nos programas de auditório da Real - Teixeirinha e Mary Terezinha, Gildo de Freitas, Portela Delavi, Luiz Müller, José Mendes e tantos outros.
Mais tarde, anos 90, a Real mudou o nome para Rádio Visão, mantendo o programa "Rádio Frequência", apresentado por Meirelles (Felisberto Meirelles), diariamente das 17 às 19 horas, com música nativista e sertaneja.