BOLEADEIRAS
Entre tantos outros temas ligados ao gaúcho,
que divulguei pela internet, ofereço mais este aos
amigos. Meu interesse é fazer conhecida e vulgarizada nossa rica cultura
terrunha.
Há mais de 12.000 anos chegaram os primeiros
povos indígenas ao território pampeano e aqui construíram suas habitações e
seus instrumentos para suprir a
alimentação, que era a base de coleta de frutas, raízes, peixes e todo tipo de
caça. Para tanto, desenvolveram instrumentos que facilitaram a vida difícil daqueles
tempos imemoriais. Pontas de projéteis
que constituíam os dardos, lanças e flechas, e também as boleadeiras. Eram
bolas redondas ou ovóides, lisas ou com um sulco, ou ainda, com pontas. Os
pampeanos usaram dois tipos bem diferentes de boleadeiras, de uma e duas bolas.
A de três bolas foi construída pelos primeiros gaúchos. A boleadeira, uma
espécie de funda, foi também uma arma muito utilizada pelo gaúcho para caçar nas
grandes pradarias do pampa Riograndense, Uruguai e Argentina. A boleadeira é
composta de bolas metálicas ou pedras arredondadas amarradas entre si por
cordas tendo em cada uma das extremidades uma das bolas.
Lançadas girando sobre si, elas vão ao encontro do alvo, geralmente as pernas
de um animal quadrúpede, que leva um tombo na hora, ficando imobilizado. Usada
normalmente na captura do gado na campanha, as boleadeiras também foram mais
tarde utilizadas na guerra.
A boleadeira é a herança que as tribos da região do Plata deixaram aos gaúchos.
Arma característica dos índios Guaranis, Charruas, Minuanos e outros que viviam
nos pampas, quando aqui chegaram os primeiros europeus. Entre todos os
utensílios de caça e/ou armas utilizados pelos gaúchos, nenhum é mais
característico e mais peculiar que a boleadeira.
Os espanhóis, e os europeus em geral, desconheciam totalmente o uso da
boleadeira ao iniciar a conquista do continente americano.
TRÊS MARIAS - Jayme Caetano Braun
Velha relíquia gaúcha, De pedras acolheradas, Três chinocas
encapadas, Que rasgando um mundo novo, Perpetuaram no retovo, E nas cordas
resistentes, As três raças diferentes, Que formaram nosso povo.
Retovada em couro bruto, Nas tabas e tolderias, Nascestes das correrias, De
charruas e minuanos, Até que os rudes paisanos, Aprenderam a manejar-te, Te
fizeram nobre parte, Dos apetrechos pampeanos.
Daí seguiste andarenga, A evolução campesina, Nas lutas da Cisplatina,
Nas invasões espanholas, Onde caudilhos pacholas, No fragor das tropelias, Te
chamaram Três Marias, Boleadeiras ou par de bolas.
Diz a lenda- que um cacique, Ao voltar de uma peleia, Vendo perto a lua cheia,
Que se destapava inteira, Na ingenuidade campeira, Da superstição
charrua, Resolveu domar a lua E atirou-lhe a boleadeira.
Desde então- no céu do pago, Daquelas pedras bravias, Surgiram as Três Marias,
No meio dum fogaréu, tropereando a lo léo, Sempre no rastro da lua, A
boleadeira charrua, Nunca mais voltou do céu.
Essa é a lenda – Mas a história, Desse traste de galpão, É a da própria
tradição, Das três pátrias campechanas, As três Querências Hermanas, Traços do
mesmo debuxo, Que moldaram o gaúcho, Nas pampas americanas.
Boleadeira de uma pedra, E mais adeante, de duas, Três Marias dos Charruas, Dos
andejos e teatinos, Riograndenses e Platinos, Centauros da mesma glória, Que
amanheceram, na história, Boleando os mesmos destinos.
Boleadeira do Rio Grande, Que recebemos de herança, Volto aos tempos de
criança, E até lágrimas enxugo,
Tropeio- Aparto- Refugo, Na sombra do arvoredo, Onde conheci o segredo, Das
três pedras de sabugo.
Muitas vezes te larguei. Saindo meio de enfiada, No rei pastor da manada, Bem
sobre o meio da cruz, Ou num lombo de avestruz. Desses que sai corcoveando, Pra
rodar se desasando, Num campo de tacurus.
Mas hoje- eu compreendo, ao ver-te, Dependurada num gancho, Olhando a porta do
rancho, E ouvindo o berro dos bois, Que já não temos depois, Chegamos ao fim da
lida: -Boleamos tanto na vida e a vida boleou nós dois.
Foto do acervo de Dari Simi
Índios charruas levados a Paris em 1823.
Desenho de Paul Rivet
Boleando ñandus (emas).
Aquarela de A. Durand, 1866.
Índios charruas civilizados, peões.
De Jean Baptiste Debret
Encontrei uma aqui em Canguçu Rs em meu sítio. Elá é pequena e as marcas em seu entorno é fraco ..Estou fazendo um teste caseiro da densidade relativa da pedra e deu 4.1..Fiquei bem curioso em saber o tipo, pois é mais pesada que as comuns!!
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