UM EPISÓDIO
DA REVOLUÇÃO FARROUPILHA EM CANOAS
O assassinato do Coronel Vicente
Ferrer da Silva Freire.
Pesquisa: Dari José Simi
Cel. Vicente Ferrer da Silva Freire e
esposa Rafaela Pinto Bandeira
Fotos do livro As Origens de Canoas, de João Palma da Silva.
Fotos do livro As Origens de Canoas, de João Palma da Silva.
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O Coronel
Vicente Ferrer era natural de Salvador,
Bahia, onde nasceu a 5 de abril de 1782, e morreu assassinado em sua fazenda do
Rio dos Sinos, então pertencente ao
município de Gravataí, Província do Rio Grande do Sul, a 26 de janeiro
de 1836, com a idade de 53 anos. Era filho do Coronel José da Silva Freire e de
Maria Pires Álvares de Miranda, ambos naturais da Bahia. Teve o casal mais dois
filhos: José da Silva Freire e Manoel da Silva Freire.
De sua vida na Bahia não há muitos dados. Mas
em 1798 assentou praça nas fileiras do 2º Regimento de Linha, onde mais tarde,
foi reconhecido 1º Cadete. Em 1802 recebeu o grau de Cavaleiro da Ordem de
Cristo, no qual teria chegado a comendador.
Encontrava-se
no Rio de Janeiro, em 19 de setembro de 1807, quando foi criada a
Capitania-Geral de São Pedro do Rio Grande e a nomeação do primeiro Governador e Capitão-Geral o Brigadeiro de
Cavalaria D. Diogo de Souza, que em 1809 veio com sua corte para assumir suas
novas funções e trouxe consigo o já Coronel Vicente Ferrer da Silva Freire,
pertencente à 2ª linha.
Mais tarde,
por seus relevantes serviços prestados à Província do Rio Grande do Sul, Vicente
Ferrer foi promovido a coronel de 1ª linha.
Em 12 de outubro
de 1812, na vila de Porto Alegre,
perante o Juiz de Fora Dr. Luis Correa Teixeira de Bragança e o vigário José
Inácio dos Santos Pereira, casava o Cel. Vicente Ferrer da Silva Freire com Rafaela
Pinto Bandeira (1782-1884), filha do Brigadeiro Rafael Pinto Bandeira e Josefa Eulália
de Azevedo e neta do lagunista e pioneiro Francisco Pinto Bandeira. Herdeira da
Fazenda do Gravataí, onde assenta-se hoje o Município de Canoas.
O casal teve
7 filhos, todos nascidos em Porto Alegre: - Diogo Pinto Bandeira da Silva
Freire; Maria Josefa da Silva Freire;
Rafaela da Silva Freire; Maria
Sofia da Silva Freire; Maria Luiza da Silva Freire; Vicente Ferrer da Silva
Freire e Maria Amália da Silva Freire. Um dos filhos, o Major Vicente Ferrer da
Silva Freire (mesmo nome do pai) deu início ao povoamento urbano de Canoas, ao
vender chácaras de sua propriedade, em volta da estação ferroviária
recentemente inaugurada (1874).
O Cel.
Vicente deixou através de seus descendentes as seguintes famílias, que foram se
unindo aos Freire e Pinto Bandeira: - Batista Pereira; Vilanova;Nunes de
Andrade, Schell; Felizardo; Rodrigues Barcelos; Cunha Rasgado. Franco di Primio;
Franco dos Reis; Alberton de Azevedo; Batista Soares; Anes Gonçalves; Cabeda;
Silveiro; Maisonette; Paiva Chaves; Eiras; Barreto Viana; Souza Velho; Cirne
Lima; Goulart Reis ; Freire de Figueiredo.
Muitos
historiadores relataram o episódio da morte do Coronel Vicente Ferrer. Desde
J.F. de Assis Brasil até João Palma da Silva, o historiador canoense que foi
buscar o relato do episódio do Cel. Vicente em documentos autênticos da época e
em depoimentos de antigos canoenses.
Joaquim
Francisco de Assis Brasil descreve o episódio em seu livro, hoje raro, sobre a Revolução Farroupilha: “Não longe de Porto Alegre, no vale do
Gravataí, residia o rico estancieiro Vicente Ferrer da Silva Freire, coronel de
milícias, ancião (sic) respeitável, honesto e chefe de grande família. Vicente
Ferrer, que não tinha aderido claramente à revolução, inspirava suspeitas aos
chefes dela, que resolveram mandar chamá-lo a Porto Alegre com o fim de
assegurarem-se do procedimento que intentava ter. Foi dessa missão encarregado o capitão Rocha,
acompanhado de pequena escolta, que partiu com ordem de prender Vicente Ferrer,
si, por acaso, ele se recusasse a vir livremente. Chegada à estância a escolta
de Rocha, ou porque Ferrer não quisesse acompanhá-la, ou porque fizesse
resistência, foi ele preso e imediatamente assassinado. Não se contentando,
ainda, os bárbaros assassinos com trucidarem o pobre velho (sic), o mesmo
fizeram ao seu filho menor Diogo. Este ato de infame covardia, que nem mesmo
encontra desculpa na efervescência do tempo, foi passado, segundo todas as
probabilidades, na ausência de Rocha.” (J. F. de Assis Brasil. “História da República Rio-Grandense”.
Rio de Janeiro, 1882, p. 99-100).
Parece hoje
provado que a escolta agiu por conta própria, à revelia de seu comandante, o
capitão Rocha, como relata Assis Brasil.
Antônio da Rocha Almeida dá outros pormenores do episódio: “O Cel. estava
refugiado nas matas de sua propriedade ( Capão do Diogo, nome dado posteriormente
ao local da morte, que situava-se no atual bairro Niterói, de Canoas), acompanhado de seu filho Diogo Pinto Bandeira
da Silva Freire, de 23 anos.
Acompanhava-os seu amigo Alferes José Maria Lôbo, também contrário aos
farrapos. Após uma busca de vários dias, a escolta divisou, na tarde de 26 de
janeiro de 1836, um escravo, que ia levar comida a seu senhor. Fácil lhes foi,
seguindo suas pegadas, surpreender os fugitivos. Sabendo que se tratava de
homens de grande valor pessoal, a escolta atacou-os à traição, pelas costas,
antes que tivessem tempo de oferecer qualquer resistência. Os cadáveres ainda
foram profanados pelos bárbaros assassinos.
Do Coronel cortaram uma orelha que, é tradição na família ter andado em
mãos de um barbeiro da Vila de São Leopoldo. De Diogo cortaram um dos dedos da
mão esquerda.” (Antônio da Rocha Almeida. “Vultos
da Pátria”. Porto Alegre:Liv. do Globo, 1966).
João Palma da Silva, que estudou
muito bem este episódio da Revolução Farroupilha, conclui que “O Cel. Vicente
foi vítima indiretamente de seus próprios companheiros legalistas, como o
Presidente Braga, deposto pelos farrapos, e alguns chefes militares que
escolheram sua fazenda para organizar uma reação. E, diretamente, foi vítima de
um grupo de bandidos que se aproveitou da confusão que reinava naqueles dias.”
(João Palma da Silva. “As Origens de
Canoas”, 1989, p. 92)
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