terça-feira, 15 de abril de 2014

UM EPISÓDIO DA REVOLUÇÃO FARROUPILHA EM CANOAS

O assassinato do Coronel Vicente Ferrer da Silva Freire.

Pesquisa: Dari José Simi

Cel. Vicente Ferrer da Silva Freire e esposa Rafaela Pinto Bandeira
Fotos do livro As Origens de Canoas, de João Palma da Silva.


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O Coronel Vicente Ferrer  era natural de Salvador, Bahia, onde nasceu a 5 de abril de 1782, e morreu assassinado em sua fazenda do Rio dos Sinos, então pertencente ao  município de Gravataí, Província do Rio Grande do Sul, a 26 de janeiro de 1836, com a idade de 53 anos. Era filho do Coronel José da Silva Freire e de Maria Pires Álvares de Miranda, ambos naturais da Bahia. Teve o casal mais dois filhos: José da Silva Freire e Manoel da Silva Freire.
 De sua vida na Bahia não há muitos dados. Mas em 1798 assentou praça nas fileiras do 2º Regimento de Linha, onde mais tarde, foi reconhecido 1º Cadete. Em 1802 recebeu o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo, no qual teria chegado a comendador.
Encontrava-se no Rio de Janeiro, em 19 de setembro de 1807, quando foi criada a Capitania-Geral de São Pedro do Rio Grande e a nomeação do primeiro  Governador e Capitão-Geral o Brigadeiro de Cavalaria D. Diogo de Souza, que em 1809 veio com sua corte para assumir suas novas funções e trouxe consigo o já Coronel Vicente Ferrer da Silva Freire, pertencente à 2ª linha.
Mais tarde, por seus relevantes serviços prestados à Província do Rio Grande do Sul, Vicente Ferrer foi promovido a coronel de 1ª linha.
Em 12 de outubro de  1812, na vila de Porto Alegre, perante o Juiz de Fora Dr. Luis Correa Teixeira de Bragança e o vigário José Inácio dos Santos Pereira, casava o Cel. Vicente Ferrer da Silva Freire com   Rafaela Pinto Bandeira (1782-1884), filha do Brigadeiro Rafael Pinto Bandeira e Josefa Eulália de Azevedo e neta do lagunista e pioneiro Francisco Pinto Bandeira. Herdeira da Fazenda do Gravataí, onde assenta-se hoje o Município de Canoas.
O casal teve 7 filhos, todos nascidos em Porto Alegre: - Diogo Pinto Bandeira da Silva Freire; Maria Josefa da Silva Freire;  Rafaela da Silva Freire;  Maria Sofia da Silva Freire; Maria Luiza da Silva Freire; Vicente Ferrer da Silva Freire e Maria Amália da Silva Freire. Um dos filhos, o Major Vicente Ferrer da Silva Freire (mesmo nome do pai) deu início ao povoamento urbano de Canoas, ao vender chácaras de sua propriedade, em volta da estação ferroviária recentemente inaugurada (1874).
O Cel. Vicente deixou através de seus descendentes as seguintes famílias, que foram se unindo aos Freire e Pinto Bandeira: - Batista Pereira; Vilanova;Nunes de Andrade, Schell; Felizardo; Rodrigues Barcelos; Cunha Rasgado. Franco di Primio; Franco dos Reis; Alberton de Azevedo; Batista Soares; Anes Gonçalves; Cabeda; Silveiro; Maisonette; Paiva Chaves; Eiras; Barreto Viana; Souza Velho; Cirne Lima; Goulart Reis ; Freire de Figueiredo.
Muitos historiadores relataram o episódio da morte do Coronel Vicente Ferrer. Desde J.F. de Assis Brasil até João Palma da Silva, o historiador canoense que foi buscar o relato do episódio do Cel. Vicente em documentos autênticos da época e em depoimentos de antigos canoenses.
Joaquim Francisco de Assis Brasil descreve o episódio em seu livro, hoje raro,  sobre a Revolução Farroupilha:  “Não longe de Porto Alegre, no vale do Gravataí, residia o rico estancieiro Vicente Ferrer da Silva Freire, coronel de milícias, ancião (sic) respeitável, honesto e chefe de grande família. Vicente Ferrer, que não tinha aderido claramente à revolução, inspirava suspeitas aos chefes dela, que resolveram mandar chamá-lo a Porto Alegre com o fim de assegurarem-se do procedimento que intentava ter.  Foi dessa missão encarregado o capitão Rocha, acompanhado de pequena escolta, que partiu com ordem de prender Vicente Ferrer, si, por acaso, ele se recusasse a vir livremente. Chegada à estância a escolta de Rocha, ou porque Ferrer não quisesse acompanhá-la, ou porque fizesse resistência, foi ele preso e imediatamente assassinado. Não se contentando, ainda, os bárbaros assassinos com trucidarem o pobre velho (sic), o mesmo fizeram ao seu filho menor Diogo. Este ato de infame covardia, que nem mesmo encontra desculpa na efervescência do tempo, foi passado, segundo todas as probabilidades, na ausência de Rocha.” (J. F. de Assis Brasil. “História da República Rio-Grandense”. Rio de Janeiro, 1882, p. 99-100).
Parece hoje provado que a escolta agiu por conta própria, à revelia de seu comandante, o capitão Rocha, como relata Assis Brasil.
Antônio da Rocha Almeida  dá outros pormenores do episódio: “O Cel. estava refugiado nas matas de sua propriedade ( Capão do Diogo, nome dado posteriormente ao local da morte, que situava-se no atual bairro Niterói, de Canoas),  acompanhado de seu filho Diogo Pinto Bandeira da Silva Freire, de 23 anos.  Acompanhava-os seu amigo Alferes José Maria Lôbo, também contrário aos farrapos. Após uma busca de vários dias, a escolta divisou, na tarde de 26 de janeiro de 1836, um escravo, que ia levar comida a seu senhor. Fácil lhes foi, seguindo suas pegadas, surpreender os fugitivos. Sabendo que se tratava de homens de grande valor pessoal, a escolta atacou-os à traição, pelas costas, antes que tivessem tempo de oferecer qualquer resistência. Os cadáveres ainda foram profanados pelos bárbaros assassinos.  Do Coronel cortaram uma orelha que, é tradição na família ter andado em mãos de um barbeiro da Vila de São Leopoldo. De Diogo cortaram um dos dedos da mão esquerda.” (Antônio da Rocha Almeida. “Vultos da Pátria”. Porto Alegre:Liv. do Globo, 1966).

João Palma da Silva, que estudou muito bem este episódio da Revolução Farroupilha, conclui que “O Cel. Vicente foi vítima indiretamente de seus próprios companheiros legalistas, como o Presidente Braga, deposto pelos farrapos, e alguns chefes militares que escolheram sua fazenda para organizar uma reação. E, diretamente, foi vítima de um grupo de bandidos que se aproveitou da confusão que reinava naqueles dias.” (João Palma da Silva. “As Origens de Canoas”, 1989, p. 92)

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