João Carlos d’Avila Paixão Côrtes
*12.7.1927
+27.8.2018
Assinava
sempre Paixão Côrtes, nome pelo qual era mais conhecido. Falar de Paixão Côrtes
em poucas linhas é uma temeridade, o homem é um símbolo do nosso Rio Grande, é
como não dizer quase nada do que ele foi. Nasceu na cidade de Santana do
Livramento, RS, a 12 de julho de 1927. Formado em Agronomia, porém, dedicava-se
inteiramente à pesquisa e divulgação do folclore gaúcho pelo Brasil e pelo
mundo.
Publicou 28
livros, todos com a temática do nosso regionalismo e a cultura do gaúcho em
todos os seus aspectos: a história, o
folclore, a música, a indumentária, a
dança, as festas populares, etc. Foi
modelo para a estátua do Laçador, do artista plástico Caringi, em 1954, hoje eleita
a estátua símbolo de Porto Alegre.
Destacou a importância do
tradicionalismo na difusão da cultura gaúcha.
Foi precursor do Movimento Tradicionalista, que teve início em 1947 em
Porto Alegre, liderando um grupo de jovens estudantes do Julinho (Escola Julio
de Castilhos), onde o mesmo grupo criou o “Departamento de Tradições Gaúchas”.
Paixão Côrtes e Barbosa Lessa viajaram pelo Rio Grande do Sul pesquisando e
registrando toda a nossa cultura musical folclórica, que resultou no “Manual de
Danças Gaúchas”.
Paixão
Côrtes dedicava-se, juntamente com sua esposa, em divulgar seu conhecimento
através de cursos e palestras em entidades, escolas e CTGs. Além dos livros que
publicou, gravou muitos discos e participou de filmes.
Tive a feliz
oportunidade de assistir a um de seus cursos, quando veio em Canoas, na extinta
Fundação Cultural.
Hoje
(27.8.2018) perdemos este símbolo do nosso Tradicionalismo. Certamente vai
fazer muita falta. Mas com certeza continuará guiando os caminhos das tradições
do Rio Grande.
Capa de livro
Capa de livro
Capa de livro
Capa de livro
Capa de livro
Livro
Polígrafo
Capa de disco
Capa do 1º disco do Conjunto Farroupilha, de 1953,
com músicas de Paixão Côrtes e Barbosa Lessa.
Verso da capa do disco do Conjunto Farroupilha
Monumento do O Laçador
LP com músicas folclóricas resgatadas por Paixão Côrtes
e Barbosa Lessa e interpretadas por Inezita Barroso
Paixão Côrtes e Barbosa Lessa
com o disco Danças Gaúchas
Paixão Côrtes
Paixão Côrtes aos 5 anos
1962 - Paixão Côrtes grava a Valsa do Passeio
tocada pela Sra. Amália
1972 - Paixão gravando músicas do Sr. Moises Mondadori,
antigo funcionário da fábrica dos Discos Gaúcho
1950 - Pesquisa o balaio
1982 - em Soledade, RS
2016 - Chama Crioula no Julinho
Monumento do O Laçador
LP com músicas folclóricas resgatadas por Paixão Côrtes
e Barbosa Lessa e interpretadas por Inezita Barroso
Verso do disco anterior
Paixão Côrtes e Barbosa Lessa
com o disco Danças Gaúchas
Paixão Côrtes
Paixão Côrtes aos 5 anos
1962 - Paixão Côrtes grava a Valsa do Passeio
tocada pela Sra. Amália
1972 - Paixão gravando músicas do Sr. Moises Mondadori,
antigo funcionário da fábrica dos Discos Gaúcho
1950 - Pesquisa o balaio
1982 - em Soledade, RS
2016 - Chama Crioula no Julinho
João Carlos d’Ávila Paixão Côrtes
*12.7.1927
+27.8.2018
Transcrevo aqui um
artigo publicado em 2017 do Carlos C. Paixão Côrtes, filho de João Carlos
d’Ávila Paixão Cortes, por relatar importantes passagens e atividades da vida
de seu pai.
“Formado em Agronomia,
teve sua vida profissional ligada a Secretaria da Agricultura do Rio Grande do
Sul onde desenvolveu trabalhos ligados a Ovinotecnia, em destaque a introdução
da tosquia australiana e a tipificação de carcaças.
Em 1947, liderou os
estudantes que fundaram o Departamento de
Tradições Gaúchas do
Grêmio Estudantil do Colégio Júlio de Castilhos em Porto Alegre, célula-mater do Movimento Tradicionalista
Gaúcho.
Esse núcleo estudantil
foi o centro agregador para um grupo de jovens
que protagonizaram
pioneiramente momentos marcantes na história do tradicionalismo. Ele e sete
companheiros, trajados e montados tipicamente à gaúcha, algo inédito na época,
formou o “Piquete da Tradição” que desfilou, em Porto Alegre, fazendo a guarda
de honra da urna funerária dos restos mortais do general farroupilha Davi
Canabarro.
Este Departamento criou,
durante a primeira Ronda Crioula, uma série de solenidades culturais e cívicas
que deram origem aos símbolos da Chama Crioula e do Candeeiro Crioulo, e
inspirou a criação da Semana Farroupilha.
Participou ativamente do
grupo, onde estavam presentes Barbosa Lessa e Glaucus Saraiva, que fundou o “35
Centro de Tradições Gaúchas”, o primeiro CTG, compondo a primeira diretoria
como Patrão de Honra.
Estima-se que existam
mais de 4.000 entidades gauchescas de diferentes constituições (CTGs, piquetes,
grupos de danças, conjuntos musicais, etc) que congregam cerca de cinco milhões
de pessoas no Rio Grande do Sul, em quase a totalidade dos estados do Brasil, e
em diversos paises da Europa, da América do Norte, e da Ásia.
Seu trabalho foi
reconhecido pelo povo do Rio Grande do Sul, ao ser
escolhido por voto
espontâneo, como um dos “Vinte Gaúchos que Marcaram o Século XX” , colocando-o
entre exponenciais figuras como Getúlio Vargas, Osvaldo Aranha, João Goulart,
Érico Veríssimo, Mário Quintana, Barbosa Lessa e outras personalidades.
Nacionalmente foi
distinguido, pelo, então, Presidente da República
Fernando Henrique
Cardoso, com a Comenda da “Ordem ao Mérito Cultural”, por serviços prestados à
cultura brasileira.
Do Governo do Estado do
Rio Grande do Sul recebeu a “Medalha Negrinho do Pastoreio”, como
reconhecimento por serviços prestados à cultura, e a “Medalha Assis Brasil”, em
destaque por seu trabalho em prol da agropecuária.
Por sua atuação nos mais
diversos segmentos, igualmente recebeu significativas homenagens e distinções,
por diferentes entidades das áreas de ensino, da cultura, das artes, da
literatura, das representações governamentais, da agropecuária, da economia, da
religiosidade e da representação popular. Igualmente, empresta seu nome a
Museu, a CTG, a praça, e a premiações em distintos
municípios gaúchos.
Convidado pelo
consagrado escultor Antônio Caringi, em 1954, Paixão
Côrtes teve a honra de
posar, com suas roupas campeiras e laço de 14 braças, para o artista esculpir a
estátua do “O Laçador”, que inicialmente foi colocada em gesso na exposição em
comemoração do IV Centenário de São Paulo. Em 1958, a obra escultural
eternizada em bronze, foi erguida em praça pública à entrada de Porto Alegre,
sendo deslocada, em 2007, para o “Sitio do O Laçador”.
Recentemente, sua
Sant’Ana do Livramento homenageou-o com obra estatutária de Sérgio Coirolo,
colocada na entrada da cidade, saudando o visitante da fronteira.
Paixão Côrtes, que
iniciou suas pesquisas folclóricas junto com Barbosa Lessa ainda no final da década
de 40, desenvolveu um notável trabalho de “garimpagem” junto ao genuíno homem
do campo por perdidos rincões do estado gaúcho. No transcorrer do tempo,
necessitou custear, as expensas próprias e sem auxílio de qualquer órgão
governamental, os filmes, as fitas magnéticas e os
equipamentos –
gravadores, filmadoras, e máquinas fotográficas, utilizados para registrar um
fértil manancial da cultura popular gauchesca.
Deste trabalho como
pesquisador no nosso estado, em outros estados
brasileiros, e em
diversos paises da América Latina e da Europa, resultou um acervo de milhares
de slides, de centenas de fitas gravadas, de horas de filmes em super 8 e em
VHS, de raros registros fonográficos da “Casa A Eléctrica” pioneira produtora
do selo gramofônico “Discos Gaúchos”, e de inúmeros documentos sobre os hábitos
e costumes rio-grandenses.
Tendo como foco a
divulgação deste material, colaborou com diversos artigos para jornais e revistas,
apresentou teses aprovadas em Congressos Tradicionalistas e de Pesquisadores da
Música
Brasileira, palestrou em
simpósios e encontros culturais, participou de programas de rádio e televisão, colaborou
com documentários, entre outras atividades culturais.
Profissionalmente
realizou cursos sobre tradição, folclore e danças tradicionais, ensinou professores
em especializações em faculdades, realizou espetáculos de danças, e como
radialista
utilizou seus programas
de rádio, ao longo de quatro décadas para propagar seus estudos e para oportunizar
espaço para manifestação da cultural popular do homem do campo.
Desenvolveu nas últimas
décadas, o Projeto MOGAR – Momento Gauchesco Artistico-Cultural Rio-grandense,
no qual editou, com textos e fotos do seu acervo pessoal, cerca de quatro
dezenas de
livros, opúsculos,
folhetins, e folders, num total de 350 (trezentos e cinquenta) mil publicações
que estão sendo distribuídas gratuitamente para enriquecimento cultural de
bibliotecas públicas, de entidades educacionais, de Centros de Tradições
Gaúchas, de Grupos Artísticos, de escolas, e de diversos grupos propagadores da
cultura gauchesca.
Assim, em 70 anos de
múltiplas atividades, Paixão Côrtes, sempre foi
um tropeiro cultural. Se
em um momento estava em terras européias cantando e dançando a alma da sua
terra, em outro estava pesquisando e resgatando as manifestações autócnes do
povo sulino, para, em seguida, estar transmitindo e divulgando-as pelos
diversos rincões do Brasil, contribuindo, assim, definitivamente na formação da
identidade do gaúcho riograndense.
Chegando aos 90 anos de
idade, decidiu recolher-se na intimidade do convívio familiar. Vai dar uma
pausa na sua atuação como homem público pois os anos de tropeada lhe causaram
desgastes de saúde. Já não consegue atender igualmente a todas as demandas e
não quer preterir ninguém, mas precisa se fortalecer. Espera que compreendam
sua decisão.
A sua figura pública
sempre foi agente de uma idéia, que foi plantada em solo fértil, e propagou nas
novas gerações. Que estas sejam responsáveis pelos novos frutos.
Ele segue observando,
organizando e enriquecendo seu extenso acervo documental de pesquisas. O
Tropeiro da Tradição agora segue “a despacito” no ritmo do seu tempo, a trançar
outros tentos.
Agradece a todos, as
mais diferentes manifestações de carinho que continua recebendo.”
Porto Alegre, 02 de julho de 2017.
Carlos C Paixão Côrtes
(filho de J. C. Paixão Côrtes)