sexta-feira, 25 de julho de 2014



Canoas também teve seus mitos e lendas




Pesquisa de Dari José Simi - darisimi@gmail.com

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Mito - provem do latim “mythus” e do grego “mythos” (fábula). Narrativa dos tempos fabulosos e heróicos. Narrativa de significação simbólica, geralmente ligada a cosmogonia e referente a deuses encarnadores das forças da natureza e/ou de aspectos da condição humana. Representação de fatos ou personagens reais exagerada pela imaginação popular, pela tradição.
Basilio de Magalhães define o mito como “transfiguração dos seres e fenômenos naturais em corpos inaturais e forças sobrenaturais.” É de opinião que do mito se originam as lendas.
Luiz da Câmara Cascudo considera o mito como “um sistema de lendas  gravitando ao redor de um tema central com área geográfica mais ampla e sem exigências de fixação no tempo e no espaço.”
Lenda - provem do latim “legenda”.Narrativa de acontecimentos fantásticos, tradição popular, conto, história fabulosa, mentira, invenção.  Narração escrita ou oral, de caráter maravilhoso, em que os fatos históricos são deformados pela imaginação do povo ou de poetas.
Luiz da Câmara Cascudo considera a lenda como “um episódio heróico ou sentimental com elemento maravilhoso ou sobre-humano, transmitido e conservado na tradição oral popular, localizável no espaço e no tempo.”
A lenda apresenta as seguintes características: oralidade, antiguidade, persistência e anonimato.
Encontra maior circulação no meio rural. Geralmente, ao redor dos fogões, surgem os contadores de “causos”. No passado os andarengos, os tropeiros e os carreteiros, cujas atividades ambulantes facilitavam o recolhimento destes fatos folclóricos,  foram  os seus maiores divulgadores.

Origem lendária do nome de Canoas:
Segundo uma tradição muito antiga que foi contada ao historiador Walter Spalding pelo canoense Guilherme Schell,  a  origem do nome de Canoas provem da palavra “canuera” – local onde os índios tapes faziam os sepultamentos de seus mortos.
O escritor de “A Divina Pastora” e “O Corsário”, Antônio José do Vale e Caldre e Fião, confirma em seu “Ibicui-retã”, publicado  na Revista do Partenon Literário, de 1873, que o termo “canuera” tinha o significado de “lugar dos mortos, cemitério”.
 Com o correr dos anos o nome foi se deturpando e “canuera” transformou-se em canoa, depois Canoas.
Esta é mais uma versão para a origem do nome de Canoas, que esteve até pouco tempo envolta em mistérios. Mas graças as pesquisas que fez o historiador João Palma da Silva para elaborar a obra “As Origens de Canoas”, depois de muito debater-se para identificar a origem do nome de Canoas, descobriu por informações de alguns antigos canoenses, a verdadeira história. Tudo teve início com a derrubada de grandes árvores para abrir caminho à estrada de ferro  que deveria passar por onde hoje é o centro de Canoas. O proprietário das terras e mato, Major Vicente Ferrer da Silva Freire, morador as margens do Rio dos Sinos, determinou  a seus funcionários (ex-escravos do Major) que fossem aproveitar as madeiras cortadas para o fabrico de canoas, que deveriam ser utilizadas no transporte de mercadorias no rio, único caminho até então disponível para a comunicação entre Porto Alegre e a colônia de  São Leopoldo. Quatro irmãos índios, Antônio, Elias, José e Sebastião Corrêa, segundo Palma da Silva em depoimento de Castorina Lima Silveira, executaram a tarefa.
Castorina conheceu os irmãos Corrêa, “eram carpinteiros da ribeira, de serviços brutos. Tocavam gaita e o “tio” José até fazia gaitas de foles. Eram das nossas relações, sendo o “tio” Elias compadre da minha mãe. Eram dos ex-escravos do Major Vicente Freire, sendo bem velhos já ao meu tempo de mocinha. O último a morrer foi o “tio” José, o gaiteiro. O Antônio era chamado Antonicão, por ser alto. O Sebastião casou uma filha com o Militão, e uma filha deste viveu em Canoas.”
Com a construção de uma estação ferroviária no local, esta ficou conhecida por muito tempo, Estação das Canoas.

Mitos que circularam por Canoas:
 Vamos citar alguns que tiveram seus nomes registrados pela história por suas realizações e exemplos. Sebastião Coelho; Marisa Ficagna; os fantasmas da Santos Ferreira.

Sebastião Coelho

Sebastião Coelho foi batizado na cidade de Torres em 23 de janeiro de 1858 e faleceu na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, em 4 de maio de 1958.
Uma crônica da época assinada por R.I.P. diz o seguinte: “Faleceu o crioulo velho, o seu Bastião, que morava nos fundos da Igreja de São Luiz, de Canoas.  Não se apartava do templo nem de dia, nem de noite. Diariamente assistia à Santa Missa e comungava. Assim fazia, porque a Sagrada Comunhão era a sua força. Dizia ele que Ela o ajudava a gostar mais de Deus e do trabalho.  Nas quartas e sextas-feiras da Quaresma só tomava pão e água. Aos domingos, quebrava o jejum só depois da última missa. Causava-lhe muita tristeza que tantas pessoas, principalmente de sua cor, freqüentavam o espiritismo e a umbanda. Não sabia ler, nem  escrever. Só sabia amar Nosso Senhor. Trabalhava sempre de graça, vivendo do que lhe davam, mas só aceitava o necessário. Morava sozinho numa pobre choupana, onde ele mesmo cozinhava, até que as R.R. Irmãs do Colégio Maria Auxiliadora lhe mandavam a comida. Não se sabe quando nasceu. Só consta o dia do seu batizado. Realmente, viveu mais para o céu do que para a terra.”
João Palma da Silva dedicou-lhe uma de suas crônicas do Correio do Povo de Porto Alegre, que intitulou “Recordando um Santo”.
O padre Pedro Luiz Botari publicou um livro sobre  Bastião, cujo título é “O Diamante Negro de Canoas ou Tio Bastião Coelho”, editado em 1964. Igualmente, há um texto, ainda inédito, de Inês Charlier Aklert – “Bastião, um santo popular em Canoas”.  Trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Folclore, da Faculdade de Música Palestrina de Porto Alegre – FAMUPA.



Sebastião Coelho tem lugar certo na história da fé católica em Canoas.  Seu corpo está sepultado no cemitério mais antigo de Canoas. Seu túmulo é muito concorrido. Inúmeras pessoas vão depositar flores o ano todo, especialmente no dia de  finados, em agradecimento por graças alcançadas.  A fama de “santidade” de Sebastião vai longe, devotos tem publicado agradecimentos por graças alcançadas, em jornais da capital.

Marisa Ficagna

Marisa Ficagna, jovem assassinada a tiros em 21 de abril de 1964 pelo noivo, em frente a sua residência. O crime teve repercussão na cidade de Canoas, pois era aluna do Colégio Maria auxiliadora e filha do proprietário da Fábrica de Acordeões Cila Ltda., do Bairro Niterói.
O seu túmulo, no cemitério Santo Antônio, está coberto de placas agradecendo graças divinas alcançadas.  Também é grande o número de pessoas que rezam em frente à sua sepultura, principalmente no dia de finados.
Segundo se conta, Marisa, que morreu com 17 anos de idade, tempos depois apareceu a uma tia dizendo que seu corpo não havia entrado em processo de decomposição.  A tia foi ao cemitério e confirmou-se a afirmação.  A partir daí teve início a “lenda” e seu  túmulo é muito visitado por pessoas que rezam agradecendo e/ou pedindo graças.

Os Fantasmas da Santos Ferreira

Os fantasmas da Santos Ferreira – Próximo ao nº 3200 da Av. Santos Ferreira, vivia um casal de velhos, ainda no início do século XX. Diz a crença popular que numa noite a velha matou seu marido e jogou o corpo em um poço. De tempos em tempos, dizem, o velho sai do poço à procura da velha.

Outra crença popular refere-se a uma noiva que tinha casamento marcado na Igreja Matriz de São Luiz Gonzaga. Seu noivo não apareceu, tendo a noiva aguardado por muitas horas frente ao altar.  Desesperada a noiva joga-se em um poço que se localizava frente ao Cemitério Municipal, na Chácara Barreto. Desde então, no mês de maio, muita gente jura ter visto uma bela moça vestida de noiva sair do poço em busca de um noivo.